domingo, 15 de março de 2009

Chocolate, de Joanne Harris


Foi-me proposto escrever um texto descritivo sobre um livro ou filme que tenha gostado... e por que nao?!

Aqui vai...o meu texto sobre o meu livro/filme preferido...





O livro “Chocolate”, de Joanne Harris, é um livro delicioso e aromático, com uma sensibilidade extraordinária que nos leva a cheiros irresistíveis, que apuram o nosso olfacto e paladar, apresenta-nos personagens misteriosas dentro de uma comunidade conservadora, fechada e triste, é um livro que se situa entre uma igreja e uma chocolataria, entre uma comunidade manobrada por um padre e a dona da chocolataria, que tinha uma visão muito original do mundo.
Este livro relata a história de Vianne Rocher, uma mulher que viaja ao sabor do vento, sem raízes, com uma independência invejável, que foge dos seus próprios fantasmas, e que, a uma dada altura, sente um desejo de estabilidade. Vianne instala-se numa pequena aldeia, Lansquenet-sur-Tannes, com a sua filha, Anouk, com a esperança de abraçar aquela aldeia com um toque de felicidade através do seu dom de fazer chocolate.
Como qualquer comunidade conservadora e fechada, Vianne enfrenta a exclusão, consideram a sua chegada e o seu propósito uma afronta à igreja. Vianne decidiu inaugurar a chocolataria na quaresma, altura esta que é considerada de jejum e, por sua vez, o Padre vê este negócio como um desvio e uma tentação para a sua comunidade, pois para ele o chocolate, com todas as suas cores, aromas e sabores, era um apelo à sedução dos sentidos.
Devido à intransigência e à mentalidade fechada do Padre, a comunidade via Vianne como uma feiticeira, que, com a sua doçura e aparente solidão, o incomodava. Este tinha um espírito conservador, um enorme desejo de poder, e desejava aperfeiçoar a sua comunidade. Julgava que o mal estava no prazer, vivia obcecado em fazer jejuns, que o levavam a ter alucinações, mas mais tarde a sua obsessão foi a chocolataria.
Na chocolataria, Vianne concretizava os seus objectivos, fazia algo que gostava para sobreviver, trazia alguma felicidade e alegria àquela gente e seguia sua própria religião, que se baseava em ser feliz. Era ali que ela punha em prática terapias psicológicas que a levavam a conhecer as pessoas, a descobrir o porquê dos seus comportamentos e até os seus desejos mais íntimos, e tudo isto através do chocolate, e da alquimia que o chocolate possui.
O chocolate aqui transforma-se quase que num agente de transformação, pois Vianne vai ao encontro de personagens que inicialmente eram inacessíveis, fechadas, solitárias e imersas no seu sofrimento, como o caso de Roux e Josefine Muscat, e que depois se transformam totalmente. Estes tornaram-se clientes, ou até se poderão chamar “pacientes”, assíduos de Vianne, sofreram transformações naqueles breves momentos passados na chocolataria, em que trocaram palavras e sensações mágicas com Vianne, enquanto esta tentava encontrar “aquele” chocolate para cada um deles. Vianne tinha dois dons, o da química do chocolate e do poder da palavra, e foi através destes dons que Josefine ganhou uma nova vida, que inicialmente se revelou ser o oposto da de Vianne.
Como desfecho desta história apetitosa, o Padre viu-se obrigado a reconhecer que Vianne estava apenas a tentar viver a sua vida em detrimento da felicidade dos outros, utilizando os seus dons para fazer a mudança, e esta decidiu assentar raízes em Lansquenet-sur-Tannes, na esperança que o vento não a torna-se a chamar.
“Chocolate” revelou-se, assim, um livro saboroso que nos permite voar ao sabor da nossa imaginação, quando são descritas todas as confecções de chocolate, e que nos permite conhecer um ambiente ou sociedade diferente da nossa, mas que tem aspectos comuns, como a exclusão pela diferença. É um livro que nos mostra como pequenas coisas e pormenores da vida quotidiana podem mudar mentalidades e maneiras de estar.
Numa só palavra, é um livro irresistível.

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