quarta-feira, 11 de março de 2009

Para a vida...


Aquelas palavras não me saíam da cabeça, “Já não há nada a fazer!”. Logo estas palavras que nos roubam toda a esperança…
Já estava contigo há uma vida, e tudo parecia tão calmo, tão sereno, éramos aqueles seres que nem precisavam de falar para saber o que ia no pensamento. Até aquele dia, aquele momento, que se tornou “o” momento das nossas vidas… nunca esquecerei aquela tua feição pálida e de desânimo, parecia que tudo desabava à tua volta, à minha volta. E agora apenas te tenho comigo em pensamento e no meu coração.
Lembras-te daquele dia em que jurámos que iríamos envelhecer juntos e correr o mundo?! E até fizemos uma tatuagem para marcar o nosso Amor… éramos tão diferentes, agora é que penso nisso. Nesse dia, acordaste com uma energia incontrolável, até limpaste a casa, e preparaste-me um pequeno-almoço maravilhoso, acordaste-me com aquela delicadeza única e ofereceste-me uma rosa. Eu fiquei sem palavras, tinhas esse poder em mim. E enquanto tomávamos o pequeno-almoço, tu olhavas para mim com um encanto tal que até me deixaste embaraçada, até implicaste comigo por eu estar corada:
- Estás linda assim corada, é sinal que te estou a tocar o coração! – disseste tu com o teu ar encantador.
E foi neste dia que prometemos ficar juntos para sempre, para o bem e para o mal, e assim foi. Agora, passados 40 anos, estou sozinha, apenas com as memórias do que vivemos juntos, de tudo aquilo que planeámos, que construímos, que sonhámos, porque estes sonhos eu ainda hei-de cumprir, por ti, meu Amor!
Tivemos que interromper os nossos projectos, por ti, pelo teu bem… Foi naquele momento, naquele hospital, que tudo desabou…
- Já não há nada a fazer! – Disse-nos o médico.
E sem reacção ficámos… foi demasiado duro, demasiado forte, demasiada frontalidade, demasiada dor, demasiado sentimento… foi, simplesmente, “demasiado” para uma pessoa cheia de vida.
Um simples exame de rotina levou a um número infinito de exames, análises, testes… até aquele “Já não há nada a fazer!”. Foi-te diagnosticado um cancro no pâncreas, e logo a ti, meu Amor. Já estava num estado tão avançado que nem tempo de vida te estimaram, nem havia tratamento possível… mas como isto pôde acontecer contigo, connosco?! Não sei. É tudo ainda muito vago na minha cabeça, na minha vida.
Aqueles dias de angústia, de sofrimento, de espera, não sabias se ias viver muito ou pouco, se ias sofrer, era tudo um grande vazio, os teus dias alegres e vivos tornaram-se em dias cinzentos, passivos e desesperantes… os teus e os meus dias. Recordas-te quando me pediste para seguir a minha vida, sem olhar para trás e te deixar?! Partiu-me o coração ouvir as tuas palavras…
- Vai viver a tua vida, não olhes para trás e segue em frente, não fiques presa a alguém que nem um futuro te pode dar… - disseste com um tom seco, como nunca havias feito.
Eu limitei-me a voltar costas e chorar, na minha solidão, para que não me visses sofrer, e não sofresses também. Foi a altura mais complicada da minha vida, e da tua também, foi uma altura que não nos amávamos, que conversávamos apenas o essencial, e não me deixavas aproximar e entrar na tua vida, fechaste-te como se eu tivesse alguma responsabilidade no que estava a acontecer, até me chegaste a tratar mal, mas eu estava do teu lado, para todo o sempre, o nosso Amor superava qualquer obstáculo.
Naquele dia em que partiste, o mundo caiu-me aos pés, estive do teu lado toda a noite, eu limpei-te a testa enquanto transpiravas de dor, eu sussurrei-te ao ouvido que te amava, eu “estive lá”. Mas dói, dói tanto perder alguém assim importante como tu eras, e ainda és, para mim, é uma dor que não se explica e apenas sente quem alguma vez amou e perdeu o amor da sua vida. É uma dor que estrangula o coração, que faz com que percamos a nossa alegria de viver, a nossa razão de viver… e eu perdi, eras e serás sempre a minha razão de viver, tu meu Amor!
Os meus dias têm sido tão diferentes, já não me abraças durante a noite, já não acordo contigo a meu lado, já não me preparas o pequeno-almoço, já não me fazes surpresas… dou por mim a entrar em casa e a imaginar que surpresa me terás feito, depois dou conta que já cá não estás. Dou por mim a fazer aquela comida que tanto gostavas, a pôr o teu perfume, a abraçar a tua almofada, a arrumar a tua roupa, só para que nunca te apagues da minha memória, para que cumpra o nosso juramento, de estarmos juntos para sempre.
Deixei tanta coisa por te dizer, tanta… queria ter tido a oportunidade de te ter dito mais uma vez que te amava, que eras a pessoa mais especial da minha vida, que não podia viver sem ti, que por ti faria tudo, que a minha vida sem ti a meu lado não tinha qualquer sentido, gostava de te ter contado que quando me sussurravas declarações de amor durante a noite eu ouvi todas, sim todas… gostava de ter tido tempo para te ter feito uma serenata à chuva, de ter gritado no meio de uma multidão que te amava, de te ter dito que ao teu lado era feliz… e tencionava fazer-te uma surpresa, disseste-me tantas vezes que gostavas de ir a Paris um dia, à “cidade do Amor”, e eu já tinha as passagens.
Agora o que faço eu com as passagens, se só ia a Paris por ti e contigo? Era a “nossa” cidade, a cidade do Amor, o Amor em forma de cidade, como nós o éramos com a forma humana. Não sei que faça sem ti, meu Amor! Continuas tão presente, nas cores, nos sabores, nos cheiros, em todo o lado… no meu coração e no meu pensamento… em cada canto desta casa…
A falta que tu me fazes, meu Amor!
(este foi o texto que me valeu um 19)

1 comentário:

Hurtiga disse...

Para onde foi o "1" que falta ao 20?
Muito, muito bom, Inês!
Já pensaste escrever mais que um texto?... um livro?
;)