Lá estava eu, naquela rua, naquele café, no sítio de sempre e à hora do costume… Era a minha pausa do trabalho, aqueles 15 minutos em que eu tirava a cabeça do computador e que me dava ao luxo de atravessar a avenida e ir tomar um bom café forte. Tu também lá estavas, nesse dia, vestias uma camisola azul escura, uma T-shirt branca e jeans, e trazias aquele perfume tão característico de tabaco, e o jornal debaixo do braço, como sempre fazias.
Aquele olhar que trocámos ficou para sempre na minha memória. Quando te dirigiste do balcão para a mesa, passaste com os teus olhos verdes por mim, e eu na altura nem liguei.
Eu tinha aquele hábito de me sentar na 2ª mesa a contar do fundo, de frente para a porta e do lado da janela, e tu, de um dia para o outro, passaste a sentar-te todos os dias, mas mesmo todos os dias, na 3ª mesa a contar do fundo, do lado da janela e de costas para a porta. Passavas o tempo todo a olhar para mim e eu nem me apercebia… nem me sentia observada. Foi preciso estar acompanhada, um dia, para a minha amiga, Inês, se aperceber que estávamos a ser observadas.
A partir desse dia, deixei de me sentir bem e até me sentava noutro lugar, até que ganhaste coragem para falares comigo, para te apresentares e pedires para te sentares ao pé de mim.
- Olá, eu sou o António… Posso sentar-me?
Eu limitei-me a fazer um gesto de permissão. Até que tu me explicaste tudo…
- Isto pode parecer estranho, mas eu conheço-te de há muitos anos. Desde crianças. Não te deves lembrar de mim, o que é perfeitamente normal, sempre foste uma rapariga da cidade, que quando estava no campo dizia: “Eu não gosto deste sossego.” Lembraste destas palavras?! O que é certo é que nunca mais te vi por aquelas bandas… Bem que me gritavas, que um dia irias ser uma mulher bem sucedida, que não voltarias lá… Quando me dizias estas palavras, o meu coração parava, e eu era ainda uma criança…
- Tu és o António, o “meu António”! Não leves a mal, mas não te conheci mesmo, e afinal, já lá vão 20 anos, éramos só uns adolescentes, umas crianças…
- O “teu António”? Tu é que eras a “minha miúda”…
- Quando eu era miúda, apesar das coisas que dizia, passava o ano inteiro à espera que chegassem as férias do Verão para ir para lá, para estar contigo, irmos para o rio, irmos pescar e andar de bicicleta… Apenas dizia aquelas coisas como um escape, para não ferir o meu orgulho e, principalmente, para me convencer que gostava mais de morar na cidade, o que era uma grande mentira! E acabei por deixar de lá ir, e por perder qualquer contacto com aquele sítio e contigo…
O que é certo é que ficámos a conversar por tanto tempo que já nem ao trabalho voltei, e todos os dias, nos encontrávamos lá, e revivíamos as nossas histórias e aventuras... O António lembrava-se de tudo com todos os detalhes.
- Lembraste de quando passámos uma tarde inteira no rio, à pesca, e só pescaste um peixito?! Ficaste tão chateada… ainda me lembro! Querias ter o meu jeito, mas não nasceste para aquilo. Mas esse verão foi sem dúvidas o mais divertido.
- A melhor memória que tenho desses tempos foi o dia em que me disseste que ias mudar-te, ias morar para Lisboa, e eu pensei que isso fosse mudar tudo, e acabei por ser eu a criar essa mudança, eu fugi e não voltei, para não ter de não te ver.
Nisto ficámos calados, não tínhamos mais o que dizer… Era tudo um grande nada, a partir daqui não tínhamos nada em comum, se não lembranças, pequenas lembranças, que na minha cabeça se iam desvanecendo…
Como poderíamos recuperar tudo? Simplesmente não podíamos! Tínhamos a nossa vida, em lugares diferentes, em áreas diferentes, não havia nada que parecesse comum entre nós novamente. Mas foi este regresso ao passado que abriu um espaço no nosso coração, para memórias, sensações, sabores…
Nada voltou a ser como dantes, nem podia, já não éramos crianças, já não tínhamos aquela inconsciência… mas plantámos uma Amizade novamente, cúmplice e pura, tal como quando éramos crianças…
Aquele olhar que trocámos ficou para sempre na minha memória. Quando te dirigiste do balcão para a mesa, passaste com os teus olhos verdes por mim, e eu na altura nem liguei.
Eu tinha aquele hábito de me sentar na 2ª mesa a contar do fundo, de frente para a porta e do lado da janela, e tu, de um dia para o outro, passaste a sentar-te todos os dias, mas mesmo todos os dias, na 3ª mesa a contar do fundo, do lado da janela e de costas para a porta. Passavas o tempo todo a olhar para mim e eu nem me apercebia… nem me sentia observada. Foi preciso estar acompanhada, um dia, para a minha amiga, Inês, se aperceber que estávamos a ser observadas.
A partir desse dia, deixei de me sentir bem e até me sentava noutro lugar, até que ganhaste coragem para falares comigo, para te apresentares e pedires para te sentares ao pé de mim.
- Olá, eu sou o António… Posso sentar-me?
Eu limitei-me a fazer um gesto de permissão. Até que tu me explicaste tudo…
- Isto pode parecer estranho, mas eu conheço-te de há muitos anos. Desde crianças. Não te deves lembrar de mim, o que é perfeitamente normal, sempre foste uma rapariga da cidade, que quando estava no campo dizia: “Eu não gosto deste sossego.” Lembraste destas palavras?! O que é certo é que nunca mais te vi por aquelas bandas… Bem que me gritavas, que um dia irias ser uma mulher bem sucedida, que não voltarias lá… Quando me dizias estas palavras, o meu coração parava, e eu era ainda uma criança…
- Tu és o António, o “meu António”! Não leves a mal, mas não te conheci mesmo, e afinal, já lá vão 20 anos, éramos só uns adolescentes, umas crianças…
- O “teu António”? Tu é que eras a “minha miúda”…
- Quando eu era miúda, apesar das coisas que dizia, passava o ano inteiro à espera que chegassem as férias do Verão para ir para lá, para estar contigo, irmos para o rio, irmos pescar e andar de bicicleta… Apenas dizia aquelas coisas como um escape, para não ferir o meu orgulho e, principalmente, para me convencer que gostava mais de morar na cidade, o que era uma grande mentira! E acabei por deixar de lá ir, e por perder qualquer contacto com aquele sítio e contigo…
O que é certo é que ficámos a conversar por tanto tempo que já nem ao trabalho voltei, e todos os dias, nos encontrávamos lá, e revivíamos as nossas histórias e aventuras... O António lembrava-se de tudo com todos os detalhes.
- Lembraste de quando passámos uma tarde inteira no rio, à pesca, e só pescaste um peixito?! Ficaste tão chateada… ainda me lembro! Querias ter o meu jeito, mas não nasceste para aquilo. Mas esse verão foi sem dúvidas o mais divertido.
- A melhor memória que tenho desses tempos foi o dia em que me disseste que ias mudar-te, ias morar para Lisboa, e eu pensei que isso fosse mudar tudo, e acabei por ser eu a criar essa mudança, eu fugi e não voltei, para não ter de não te ver.
Nisto ficámos calados, não tínhamos mais o que dizer… Era tudo um grande nada, a partir daqui não tínhamos nada em comum, se não lembranças, pequenas lembranças, que na minha cabeça se iam desvanecendo…
Como poderíamos recuperar tudo? Simplesmente não podíamos! Tínhamos a nossa vida, em lugares diferentes, em áreas diferentes, não havia nada que parecesse comum entre nós novamente. Mas foi este regresso ao passado que abriu um espaço no nosso coração, para memórias, sensações, sabores…
Nada voltou a ser como dantes, nem podia, já não éramos crianças, já não tínhamos aquela inconsciência… mas plantámos uma Amizade novamente, cúmplice e pura, tal como quando éramos crianças…
(como gostas do que escrevo, e só tenho a agradecer por isso, espero que gostes deste texto, MJ)
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